Isso não é trabalho de mulher

Ouvi a frase pela primeira vez ainda de farda, o cabelo preso com força, o olhar a tentar disfarçar o nó na garganta. “Isso não é trabalho de mulher.” Diziam-me com a naturalidade de quem acredita estar a constatar um facto, não a perpetuar um preconceito. Eu era militar. Jovem. Determinada. E mulher. E parecia que o mundo inteiro precisava de me lembrar disso, não como identidade, mas como limite.

Quantas de nós já ouvimos esta frase disfarçada de conselho? Quantas vezes a sociedade tentou encaixar-nos em moldes que não desenhámos? Crescemos a ouvir que há espaços que não nos pertencem, papéis que não nos cabem, fardas que não nos servem. E no entanto, aqui estamos: a vestir todas elas, a comandar, a liderar, a provar que competência não tem género, tem coragem.

Voltei à minha carreira militar cinco anos depois. Volto com um novo olhar. Não por nostalgia, mas por missão. Porque percebi que é ali, num terreno ainda rígido e hierarquizado, que a liderança feminina e humanizada é mais urgente. Uma liderança que não mede força pelo tom de voz, mas pela coerência. Que exige disciplina, mas também respeito. Que entende que lealdade se conquista, não se impõe.

“A Liderança Veste Rosa” não é um slogan. Não é apenas "mais um título" de um livro com uma capa bonita. É uma afirmação de presença. É o grito silencioso de todas as mulheres que decidiram não pedir permissão para liderar. Porque o mundo, e sim, também as forças armadas, precisa de líderes que sintam antes de mandar, que unam antes de dividir, que saibam que autoridade e empatia podem coexistir.

Hoje, quando ouço novamente “isso não é trabalho de mulher”, sorrio. Não é. É um trabalho de líder. E eu visto rosa, mesmo sob a farda.

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