Sandra May: a portuguesa que está a percorrer a Estrada Nacional 2 de bicicleta
Sara Lopes
3/08/2022
A escritora está a divulgar o seu novo livro de uma forma inédita. A viagem começou no dia 31 de julho.
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Muitos já percorreram a mítica Estrada Nacional 2 (EN2), que liga o País de norte a sul, de carro, mota ou até mesmo de trator agrícola. Outros, mais aventureiros, decidem pegar na bicicleta e pedalar ao longo dos 739 quilómetros que unem as cidades de Chaves e Faro. É o caso de Sandra May, uma escritora portuguesa que se aventurou pela EN2, sozinha e de bicicleta, para divulgar a sua obra mais recente.
Sandra May tem 28 anos, nasceu em Viana do Castelo — apesar de ter sido criada no Porto e estar atualmente a viver na Chamusca — e mantém um diário desde os seus 12 anos. Sempre adorou escrever, mas nunca pensou fazer disso profissão. Ainda antes de ser escritora, foi bailarina profissional durante vários anos, e militar do exército durante três anos e meio. Duas áreas que não podiam ser mais opostas uma da outra, mas que a empurraram para fazer aquilo que realmente a fazia feliz: escrever.
“A tropa tem um regime muito rígido e sempre me agarrei muito à escrita para não perder o meu lado mais criativo. Depois de quase três anos e meio vi que não me fazia feliz e acabei por desistir em 2020 para me tornar escritora a tempo inteiro”, conta à NiT. Lançou o primeiro livro um ano depois — um conto infantil —, através de uma editora, mas cessou contrato pouco depois para embarcar nesta aventura sozinha.
Mais tarde, escreveu um e-book sobre desenvolvimento pessoal e ansiedade, o seu primeiro trabalho autopublicado, e a 19 de fevereiro deste ano lançou oficialmente a obra “Ainda Não é Desta” (à venda por 14€), o primeiro livro de uma trilogia. “Este livro fala das peripécias da vida real, sobre aquele balde de água fria que levamos quando chegamos à fase adulta e percebemos que não é nada do que estamos à espera. É uma comédia romântica, com amores e desamores e muito autoconhecimento”, explica.
Enquanto escritora independente, decidiu publicitar o seu livro da forma mais inédita e original possível: com uma viagem pela EN2 de bicicleta e com vários exemplares às costas, para que possam ser assinados e vendidos ao longo das paragens. Mais do que concretizar o sonho de percorrer a mítica estrada portuguesa, esta aventura íntima e pessoal tem também o objetivo de transformar a EN2 num percurso cultural, “incentivando os diferentes artistas do País a levar a sua arte ao longo da estrada”.
“Sempre tive muitos projetos com este livro. Está a ser feito um script que irá ser enviado para a Netflix e já está em cima da mesa fazer alguns sketches de teatro. Pensei noutras formas de promover a obra para chegar a mais leitores e, como sempre quis fazer a EN2 de bicicleta, pensei que podia juntar as duas coisas. Assim conhecia Portugal e dava a conhecer o meu trabalho a vários leitores”, revela.
Antes de embarcar nesta aventura, a escritora começou por vender os livros na sua terra ao andar pelas ruas com um cesto cheio de exemplares. Mais tarde, a bicicleta surgiu como meio de transporte para facilitar a divulgação, até que se transformou neste inédito projeto literário, com a Decathlon como parceira.
Durante três meses, Sandra foi-se preparando física e psicologicamente para esta aventura que exige muito esforço físico. “Quando fui comprar a bicicleta descobri que tinha seis mudanças e eu não fazia ideia de como mexer naquilo. Senti que tinha de estudar a bicicleta, tirei o código de estrada de bicicleta e fiz workshops sobre como mudar o pneu. Foi como se estivesse a conhecer um mundo novo”, revela.
Depois de todos os treinos, aulas e workshops, deu início a esta aventura no domingo, 31 de julho, quando chegou a Chaves. O percurso será dividido em 17 etapas e o objetivo é ficar um dia em cada município, tempo suficiente para conhecer os moradores e divulgar a sua obra.
“Levei comigo 10 livros, mas vou tendo várias recargas pelo caminho. Se ficar sem exemplares, tenho comigo uma T-shirt com um QR Code que leva diretamente ao meu site, onde estão lá os meus dados todos.” A escritora pediu apoio a todas as autarquias e terá apresentações do livro nas bibliotecas de alguns municípios.
Nas cidades onde a apresentação não é possível, a ideia é sair à rua “não só para falar dos livros, mas alertar a população para apoiar os artistas portugueses”. Além de ser um projeto cultural, também é turístico. Isto porque a escritora vai partilhando nas redes sociais toda a experiência.
Três dias depois de iniciar a viagem de bicicleta, a escritora confessa que os primeiros quilómetros não foram nada fáceis: “Os primeiros 25 quilómetros foram fáceis e até achei aquilo demasiado fácil, mas depois apanhei uma subida terrível. Foram cinco quilómetros a subir e o meu corpo começou a fraquejar. Tive de parar, beber água, mas nem isso foi suficiente porque já tinha gasto energia onde não devia”. Mais do que a promoção do livro, esta é também uma viagem de autodescoberta, onde irá “aprender a ouvir o corpo, física e psicologicamente”.
Geralmente acorda às quatro da manhã para aproveitar as horas mais frescas do dia e, até ao momento, já fez paragens em Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, sendo que o objetivo é terminar a viagem em Faro, a 20 de agosto. “Nada me impede de prolongar mais uns dias, caso comece a sentir que o meu corpo não está totalmente recuperado. Hoje quando acordei pensei que não estava com dores nenhumas, mas assim que subi para a bicicleta senti as minhas pernas como nunca tinha sentido”, revela. A bicicleta pesa 19 quilos e, além dos 10 exemplares, leva dois alforjes (bolsas grandes) com cinco quilos cada um e uma mochila às costas onde guarda a água.
Apesar de desafiante, está a ser uma experiência diferente e recompensadora. “Quando chego ao destino choro sempre. Imagino a música ‘We Are The Champions’ porque durante o percurso estou muito focada, mas quando chego ao destino sinto-me muito orgulhosa por ter superado mais uma etapa. Esta viagem vai ser muito de auto descoberta e superação”, diz a escritora.
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